16.5.08

é mato! [dos antigos]

quero e vou voltar pra são paulo em breve [isso é fato, acho que vou escrever sobre isso logo mais]. mas aqui em mirandópolis tenho tentado exercitar a mente. usando de métodos que a gente vai aprendendo com o tempo. com a vida. com calma. ai, de repente, quando tudo parecia mecânico na sua rotina, as coisas mudam. e ai se pode aplicar a experiência.

a fotografia tem me levado a observar coisas que há muito tempo não sabia realmente que ainda existia. mesmo quando cheguei por aqui, no início do ano. achei que a globalização tinha levado parte da essência de cidade do interior. claro que não é a mesma que deixei há mais de 10 anos, mas não quero saber do novo.

na ânsia de fotografar tenho me aproximado de quem sabe. quero mesmo é conhecer os velhos. descobrir como as pessoas sobrevivem em tempos modernos. pessoas que chegaram aqui na cidade quando tudo era apenas mato. milhas e milhas de muito verde, mata fechada, dura de atravessar. a cidade é jovem, foi fundada em 1938. na boca da segunda guerra mundial, apenas isso. é menina ainda.

por conta disso, imaginar que muitos dos habitantes não são daqui. muitos deles migraram para a cidade, lógico, depois da sua fundação. conheci joão miguel filho de deus, um jovem de 73 anos de idade, que saiu de garanhuns (pe) na década de 40 pra viver por essas bandas. pessoa humilde que cuida de seus animais [um deles], sua charrete, vende queijo, tem terrenos arrendados, planta milho...

há pouco [hoje] ainda conheci outro exemplar de vida como esse. dona cida. mãe doente "encamada", como me disse, para cuidar. "meu marido é um que anda pela rua, só ele usa bengala. tá meio doido, coitado. já está velhinho. e ontem operei", e abaixou a cabeça para me mostrar o curativo da biopsia. "estou preparada pro resultado, mas tenho pessoas para cuidar".

ela me contou que conhecia minha avó. falou dos tempos em que minha avó "costurava para fora", disse que é muito amiga da dona lourdes. realmente. depois me chamou para aparecer na casa dela na parte da tarde, pra gente conversar mais. e tudo isso porque, quando passava em frente da sua casa, eu perguntei a ela, que no momento conversava com seu joão, se sabia o nome de uma planta que tinha na calçada. "a gente chama de mato mesmo, né seu joão?"

de repente eu apareço lá pra aprender mais um pouco e descobrir mais da história humilde dessas bandas de cá, "onde não vale a pena ir pra passar só um fim de semana. é muito longe", como dizem alguns amigos...

antes que eu volte.

Um comentário:

:: DuasCaras :: disse...

Fabrício, essas florzinhas... eu nunca vi dessas flores em LUGAR NENHUM. Só em Miranda!!!
adorei ver essa foto...