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7.3.07

lixo e polícia

por[vilauba herrera]

caminho para a labuta de ônibus, um calor federal. momento perfeito para um sorvete. foi aí que observei uma cena rotineira. dois garotos, boné na cabeça, ao estilo Sérgio Mallandro, mas isso é conteúdo para outro texto. abrindo um picolé, creio que sabor uva, o jovem retirou a embalagem e, como se estivesse de frente ao lixo da cozinha de sua casa, atirou o papel no chão. assim, sem pestanejar. ou interromper a conversa animada com o colega. A cena ocorreu embaixo do minhocão, perto da estação Marechal Deodoro do metrô, linha vermelha.

o ônibus seguiu e me veio à cabeça. quantos milhões de papéis de sorvete, de bala, de supermercado, são jogados por dia em São Paulo?

essa pergunta é um clichê, eu sei. mas que eu saiba, é proíbido jogar lixo na rua e, pelo que sei também, a polícia serve para coibir atitudes que não são permitidas em lugares públicos.

a polícia aborda e prende gente que tira a roupa na rua, gente que faz sexo na rua, gente que cheira cola debaixo dos viadutos. mas polícia aborda, dá esporro ou prende quem joga lixo na rua ou quem deixa a merda do poodle rosa no meia da calçada? eu nunca vi.

o que é pior para uma cidade? milhões de indivíduos jogando lixo no chão todos os dias, ou meia dúzia de pessoas fumando um baseado em algumas praças da metrópole? digo isso a curto, médio e longo prazo. uma enchente é causada por lixo em bueiros e bocas de lobo. quantas enchentes estragam a vida de milhares de pessoas na cidade por ano?

por dia, 17 mil toneladas de lixo são produzidas em são paulo. segundo a Limpurb, que administra a coleta de lixo na capital paulista, 98% do entulho é coletado. No entanto, 2% disso fica na rua. São aqueles papéis de bala e aquela embalagem de picolé, que o discípulo do sérgio mallandro deixou no chão. é pouco? isto equivale a 340 toneladas de entulho. dá pra empurrar para debaixo do tapete?

claro que o culpado maior é aquele que joga o papel no chão, claro, mas a polícia tem a obrigação de impedir e/ou minimizar esse tipo de problema. se não é a polícia, quem é, então?

Rapidamente, em uma pesquisa na internet, a Polícia Militar responde minha ingênua dúvida: "predestinado a servir e proteger, todo policial militar advém do seio da sociedade. não importa seu sexo ou sua estatura, muito embora na maioria das vezes são grandes em seus atos. são grandes heróis anônimos cuja principal característica é a vontade de servir, de dedicar-se a causa pública e o amor ao próximo..."

heróis e predestinados não têm tempo para papéis de bala e merda de cachorro.

17.1.07

mo[vi]mento social [massa e mst]

por [vilauba herrera]

cantina do michelli é o lugar escolhido para almoços e jantares, quando se quer comer bem, pagar honestamente e não pegar carro. fica ali na rua turiassú [perdizes, são paulo/sp], ao lado da igreja evangélica de surfistas e atrizes/modelos [bola de neve].

mas hoje [quinta, 7.01.07], a modesta e tradicional cantina do saudoso alviverde michelli foi palco de uma reunião informal do movimento dos trabalhadores rurais sem terra (MST).


joão pedro stédile e companheiros conversaram sobre política geral. desde a guerras entre partidos no Planalto Central até a [moderna] tecnologia de produção agrária. além disso, também comeram uma boa massa e beberam vinho.

se jornalistas de gravata e [barões]executivos da imprensa não cansam de divulgar idéias de que o mst é um movimento decadente e que somente sabe usar arados puxados por bois, creio que estão errados. pura ignorância.

logicamente, os assentamentos do movimento não são dotados de mega tratores, arados eletrônicos, vacas biônicas e agricultores com camisa de seda e chapéu texano. mas também, pelo que me parece, não existe nenhum governador de Estado trabalhando nas fazendas de assentamentos.

mas não é isso que o MST quer. os homens, mulheres e crianças de camisas vermelhas não pretendem criar latifúndios de soja, florestas de eucaliptos, megalópoles de bois.

porém, um exemplo de trabalho do MST está no assentamento da antiga fazenda annoni (rs) [invadida em 1985, que virou assentamento no ano seguinte]. atualmente, por ano, produz cerca de 20 mil sacas de trigo, 6 milhões de litros de leite, 150 mil sacas de soja, 35 mil sacas de milho, 45 toneladas de frutas, 800 cabeças de gado, 5 mil cabeças de suínos e 10 mil quilos de hortaliças.

diversidade de produtos, divididos para diversas famílas, acho que é isso que querem.

eu acho... e espero que os companheiros de stédile continuem querendo dividir, e que a mesa com massa e vinho esteja mais cheia de companheiros a cada dia.

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* vilauba herrera é colaborador e tem liberdade para escrever neste espaço sempre que lhe der na telha ou uma indignação lhe bater à porta de maneira implacável e revoltante. ou não.