com a vítima já no cativeiro, a ação começou a degringolar. a queda de um balão na frente da residência escolhida foi o empurrãozinho pro jogo de dominó. um maluco acabou assassinado na disputa pelos restos do balão. coisa típica na periferia de uma cidade grande como são paulo. na confusão, ele mesmo sugeriu que liberassem a vítima, uma mulher. rica, segundo as informações levantadas, por bem mais de um mês, pelo observador, que levaria sua parte dos 250 mil reais exigidos.
a coragem se transformou em medo. a mulher já estava solta. a maioria dos funcionários da ação fugiu, com medo de cair na tranca-dura. ele não. ficou em casa, vivendo a vida normal. até que o primeiro miliante foi encontrado pela polícia e a casa caiu. o mesmo que o chamou de medroso começou o processo de dedurar todos. ele caiu por conta de uma foto na carteira de reservista ["nunca gostei de tirar fotos, mas elas foram parar no fantástico e os carai."]. o x-9 foi com a polícia na sua casa apontá-lo. "eu não tava em casa. tá moiado pra ele agora. trombei agora com ele, mano. quando todo mundo sair, vamo conversar."
a setença do juiz foi implacável. mesmo a vítima não tendo reconhecido ele, o juiz sentenciou o bando: 12 anos de prisão. foi parar na vida dura do sistema prisional brasileiro. passou fome, jogou bola, estudou, pensou na vida. e perdeu a mulher. desde então decidiu ficar sozinho e não gosta de colocar os nomes dos parentes na lista de visitas. tem certeza de que está sozinho na vida.
aos 25 anos, cumpriu seis anos e três meses da pena. após passar pela tranca-dura, vive em regime semi-aberto na penitenciária de valparaíso, cidade
no última páscoa teve a sua primeira 'saidinha'. claro, foi pra capital. passeou pelas suas quebradas. ficou bastante em casa. saia só depois das 23h e "não dava vontade de parar de andar. cidade é muito grande e era só isso que pensava, em andar, mesmo que sem rumo." domingo bateu uma depressão. tinha de voltar no dia seguinte. chegar antes das 17h em valparaíso.
se não chegasse, teria uma punição. não poderia usar da saidinha do dia das mães. o trânsito embaçou na ida da zona leste até o terminal rodoviário da barra funda. perdeu a condução da empresa capitalista e dominadora que lhe enfiara a faca em quase 100 mangos. monopolista, a empresa não tem dó. o preço é esse e acabou. aproveita que ainda tá barato pra você. teve de voltar no dia seguinte e perdeu o direito da saidinha do dias das mães.
como só sairia agora no dia dos pais, já sabia quanto tempo demoraria: "três meses e pouco, ó". estava desanimado, mas acreditava muito na liberdade condicional que poderá sair daqui um ano e oito meses. "setembro de 2009. só não sai isso antes porque a execução é muito demorada naquela região. o estado deveria enjaular as pessoas, mas lhe dar as condições mínimas. a água é racionada, a comida é menos de
é verdade, o estado só se preocupa com números. não existe amor, nada disso. agente penitenciário bate pesado, dá tapa na cara de bandido, esculacha. "mas na hora que dá uma viradinha, vira tudo pai de família, por favor, não me bate, não... " no ônibus apertado, diz que só se envolveu com seqüestro e assalto. "tráfico eu não gosto não. e também não gosto que as pessoas usem drogas. a minha é o cigarro." a mãe usava drogas e lhe batia. também puxou cadeia, mas ele nem quer mais saber dela.
reclamou do café ruim da rodoviária. o pior de sua vida. tomou dois. deu um jeito e conseguiu dar alguns tragos no banheiro do baú. não incomodou os passageiros. conforme as cidades ao longo da marechal rondon foram ficando para trás, parecia que as energias libertárias iam se esvaindo. ficando no asfalto. quilômetros de asfalto e muito verde. cidades obscuras e máquinas que soltam fumaça. espetáculo lindo, fotográfico. porém, melancólico.
o sono já tinha ido embora. a expectativa ia ficando maior e sonho de voltar à liberdade ficavam evidentes. contrastando com o nó na barriga que os quilômetros seguintes traziam. a cada parada, um pouco mais de aflição. como já estava atrasado, iria curtir mais um pouco na cidade, pequena. voltaria , "tipo, cinco e meia pro presídio. " por isso talvez a melancolia não foi máxima.
sua cidade chegou, pegou sua sacola. tinha um parceiro e resolveram ficar na cidade juntos. esperou a mala, mas antes colocou sobre a camiseta de seu time, uma blusa. a partir daquilo, a contagem regressiva iria acelerar. seu peito apertaria mais uma vez. a liberdade voltaria mesmo a ser conto, apenas sonho... agora, ele seria de novo só do sistema prisional. como um monstro que engole e regurgita as pessoas como bonecos. mas tudo isso já ficou pra trás, na rodovia.
[baseado em fatos reais]
5 comentários:
Uma mescla de sentimentos tanto de um lado como de outro. Na poltrona “x” e na poltrona “y”. Cada um com sua vivência, com sua experiência. Esse busão tem história...aliás, deve ter muitas, só o tempo que ele fica na estrada...imagina? Com suas aflições, seus temores, seus pensamentos. Imagino que se o pensamento tivesse cor, o ônibus todo estaria escuro, um silêncio de gente dormindo e como manchas coloridas, como nuvens, fumaças, estaria rotacionando aquele espaço, aquelas poltronas...somente aquelas...cada um com sua vivência, como eu disse, com suas escolhas de vida, de caminhos...
Não sei se você me entende...entende?
Beijos
Ana Cancello
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Grande texto de uma dolorosa trilha. Tá parecendo roteirista, malandro!
Abrazzz
salve morenoso, a trilha é dolorosa, mas o sistema transforma isso em super dolorosa.
ana, claro que te entendo. entendo pra caramba. agora você entende um pouquinho dessa minha trilha.
beijos
fabrício
Parabéns meu velho.. texto foda de uma sitação foda. Isso vai dar pano pra manga.. ahh se vai!!
abrassss....
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