12.7.07

papo-mole[artigo 171]

foi a vez do jornal carioca 'O Globo' fazer uma matéria para provar a hipocrisia da sociedade brasileira [só para cadastrados]. sobretudo de sua elite, que se sente no direito quase obrigatório de fraudar uma carteira de estudante para pagar meia-entrada nos eventos culturais [cinema, teatro, shows e afins].

o interessante é ver a quantidade de absurdos que os estelionatários proliferam para justificarem o crime que cometem. essa é a verdade. a cada vez que se entrega uma carteirinha falsificada [originalmente ou não] em uma bilheteria é caracterizada uma ação de estelionato [artigo 171 do código penal].

as justificativas são as mais calhordas. separei algumas dessas para quem não tem cadastro e não pôde clicar na matéria.

"O preço dos ingressos hoje é tão absurdo que eu me vejo obrigado a usar a carteira de estudante. Se eu não fizer isso, meu padrão de vida não vai me permitir ir ao cinema e, muito menos a shows, que hoje custam R$ 150. Para quem tem família, não dá. Eu lembro da época em que o cinema era acessível. Hoje, é proibitivo" - E., 31 anos, advogado formado desde 1999 e que admite [o crime] usar carteira de estudante fraudulenta desde 2005.

"Acho um absurdo que cobrem tanto pela inteira. Eu já ouvi várias vezes que os produtores cobram o preço do ingresso dobrado para quem não tem carteira de estudante. Mas eu entendo. Realmente, os produtores não têm como cobrir o custo de um evento sem saberem quanto vão receber. Eu falsifico como protesto para que mude a lei da meia-entrada" - A., 25 anos, designer, que se formou há dois anos e se gaba de fazer o seu crime virar "oficial".

claro que ingressos poderiam ser mais baratos. é a reinvidicação da maioria dos estelionatários das carteiras. só que os próprios criminosos mimados, fazendo suas falsificações, estão contribuindo para que os ingressos fiquei ainda mais caro. a "forma de protesto" que o ex-estudante de designer utiliza é burra. só piora a situação.

interessante também é notar que não se vê estelionatário de carteirinhas na classe pobre, que é a primeira a sentir os efeitos dos altos preços das entradas. da mesma forma que os reacionários pregam que os usuários de drogas financiam o tráfico, os '171 das carteirinhas' estão afastando as classes mais pobres de ter acesso à cultura e informação.

o que é ideal pra que o '171 da burguesia' possa continuar na crista da sociedade, com seu scanner de alta definição, seu macintosh branquinho com a maçã reluzente, suas idéias burguesas. com toda parafernalha, ele se esquece [nem sabe, na verdade] que seu crime tem pena prevista de um a cinco anos de detenção, além de multa.

é a mesma coisa que falsificar uma carteira de motorista, uma certidão de nascimento, um atestado de óbito... é crime. mas ele pode. afinal, tem o advogado da família que vai arrumar um jeito rapidinho dele sair do xilindró. isso se um dia as pessoas irem parar na cadeia por infringir o artigo 171 do código penal.

2 comentários:

Serjão disse...

Salve DuBem
Temos que levar esse papo adiante, afinal, os nossos advogados não podem perder seu padrão de vida em virtude de uma entrada inteira.

Meia honestidade existe??

[de lima] disse...

vamos sim.
a pergunta é ótima.