10.6.08

anônimo revoltado[como muitos]

o texto foi assinado por um certo 'anônimo revoltado'. talvez anônimo porque pode representar a opinião da maioria dos brasileiros anônimos que acompanham as transmissões de automobilismo no brasil. beira o ridículo tudo isso. e pouca gente tem coragem de falar sobre.

eis o texto na íntegra e sem edição:
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Bem amigos da Rede Globo!

Neste domingo vivi uma experiência ímpar: assisti as 500 milhas de Indianápolis com a “super-cobertura da Band”! Apesar de ser um fã de automobilismo (sim, às vezes pego pesado: até fórmula truck eu dou umas olhadas) eu ia desistir. A transmissão da dupla Luciano do Valle-Willy Hermann é tão ruim... que acaba ficando boa! A diversão é garantida, involuntariamente, é claro.

O Bolacha simplesmente não consegue acertar o nome de ninguém. “Essa Mika ta micada!” O trocadilho seria aceitável se o nome da venezuelana fosse Mika, mas é Milka. Com o Andretti, então, foi uma festa. “Lá vem o Mário Andretti!”. O repórter Celso Miranda, na base da velha amizade, entra para avisar: “O Mário está aqui pertinho de mim Luciano, torcendo muito pelo neto, o Marco”. Passam algumas voltas e, na terceira vez que o Bolacha chama o garoto de Michael, o comentarista, discreto, intervém: “O Marco é rápido como o pai, o Michael, não é Luciano?” Ele não se aperta: “Mário, Michael, Mário... mas também a família precisava colocar todo mundo com nome começando com a letra M?”. No quesito, hereditariedade, ele também vai chamando o Thomas Scheckter pelo nome do pai, Jody Scheckter. Quando, finalmente, é corrigido, apela: “É... o pai dele era tão bom piloto que esteve perto de ser excluído da Fórmula Um. Só isso! O homem era um perigo constante!”. O Celso Miranda não se contém: “É... mas acabou campeão do mundo, não é Luciano?” “Bandeirantes, o canal do esporte!”. A questão andava tão complicada, que o Willy nos brindou com a seguinte pérola: ”Esse negócio de DNA às vezes até funciona!”. Uau!

Sim, o comentarista também mostrou a que veio. Faltando 30, das 200 voltas, ao ver que os três líderes tinham mais de 2 segundos de vantagem dos demais (um monte, em Indianápolis) ele arriscou: “Para mim a corrida fica entre um desses três”. Precisa de muita coragem e anos de Indianápolis para uma afirmação dessas... Mas ele foi além: “Se o Scott Dixon se mantiver na frente vai acabar levando a taça”. Sim, amigos, ele acertou: ninguém passou o neozelandês e, como foi o primeiro a chegar, surpreendeu a todos e... efetivamente venceu!!!

Mas voltemos ao Bolacha, que é o cara. Como uma metralhadora, ele vai disparando bobagens ao longo da transmissão:

“O prêmio para o vencedor é incalculável: 2 milhões de dólares!”

“O Émerson Fittipaldi está guiando o pacecar. Essa é a garantia que teremos sempre um brasileiro na frente!” (essa foi duplamente cruel, em primeiro lugar porque, surpreendentemente para o Luciano, o pacecar saía da frente para a corrida andar e, em segundo lugar, porque na metade da corrida trocaram o pacecar e o piloto)

“O Bernoldi não é garoto, já tem 36 anos” (essa ele deve ter lido na ficha e entendeu mal: o carro dele era o 36)

“Estamos honrados porque a organização da prova escolheu a Band para distribuir aqui para os camarotes uma transmissão em português” (escolha difícil, diante da exclusividade da emissora do Morumbi)

“O Tony Canaã é baiano, mas é rápido” (só faltou falar se ele toca berimbau...)

“Se os mecânicos estivessem ali, seriam atropelados!” (se uma vaca, o Ronald McDonald ou Bush estivessem ali, também seriam...)

“Esse muro aqui é especial. Você em casa tem a impressão que ele é sólido, mas a coisa é bem diferente” (Gasoso? Líquido?)

“Domingo que vem tem Fórmula Truck em Fortaleza. E a prova tem emoção garantida porque é a menor pista do campeonato. Em automobilismo você sabe: quanto menor o circuito, maior a emoção.” (A tese, excêntrica, logo é derrubada por ele mesmo) “Indianápolis é especial também por causa da pista, o maior oval do mundo. E aqui a emoção é do tamanho da pista.”

“Esse methanol quando vaza é um perigo, porque ninguém vê a chama!” (Entram as imagens do carro pegando fogo, com close das labaredas) “Na verdade eles estão correndo com etanol, Luciano” “O nosso etanol, que beleza! É o Brasil dando um bonito exemplo para o mundo!” “Na verdade eles usam o etanol deles mesmos, extraído de milho, coisa de americano, né Luciano” “Mas o primeiro passo já foi dado, Celso. Agora pra eles usarem o nosso é só uma questão de tempo!”

Melhor parar por aqui. Mas vale dizer que eu vi oito acidentes e, mesmo sem acompanhar a Indy, identifiquei dois: os brasileiros Tony Canaã e Jaime Câmara. Fui muito melhor que o Bolacha, que errou nas cinco vezes em que arriscou e perguntou quem era nas outras três. Pra terminar, em meio ao festival de abraços que ele manda (ao querido amigo Elia Junior, ao fulano da agência de turismo que trouxe os brasileiros, ao governo do Ceará que mandou uma comitiva - !?!) e a um entranho entusiasmo especial com o Mario Moraes (neto do Antonio Ermírio, que chegou num “espetacular” 18º lugar – “você aí em casa talvez não tenha dimensão do que essa colocação significa”) e com o Vitor Meira (não sei, mas algo há), ele fala a frase que resume tudo: “Ah... estamos aqui com Fittipaldi, Andretti, Scheckter... faz lembrar os bons tempos!”

Bons tempos que, como a confissão involuntária diz, já foram, há muito...

[texto escrito por 'anônimo revoltado' como comentário para um texto no blig do gomes]

Um comentário:

Anônimo disse...

Gomen kudasai.