26.6.08

profundamente

ontem acordou com saudade. não sabia exatamente dizer de onde vinha essa saudade. confessou-nos. mas ela apertou o peito o dia inteiro. tentou então se entregar aos trabalhos, até conseguiu finalizá-los. mas o aperto não passou. aumentou conforme palavras foram saindo da sua boca. com nexo, mas talvez desconexo do contexto atual. o contexto da saudade.

à noite. quando já se achava intocável. um velho ator o fez lembrar da saudade. já tinha detectado o vazio durante o banho. um vazio que vem acompanhando seu caminho desde que ela partiu. de supetão. paulo autran não aliviou a paulada. ainda jovem, recitou um poema de manuel bandeira, mas parecia que as palavras foram apenas aos seus ouvidos. mais ninguém escutou...

(...)

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?

— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.*

ainda antes do poema terminar, o coração já pulsava mais forte. tentava bombear o que naquele momento parecia ter sumido. o aperto no coração virou estrangulamento da alma.

foi difícil não chorar... pouco

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[*]trecho do poema 'profundamente', do
poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro manuel bandeira. poema publicado em 1930 no livro intitulado Libertinagem.

19.6.08

levante!

... e por achar que as coisas deveriam ser sempre pra frente, o passado foi ficando para trás. um pouco esquecido. talvez um escudo contra sentimentos, contra incertezas. sobretudo aquelas incertezas que hoje estão mais certas do que nunca. acontecimentos acontecem para acontecer, para fazer acontecer na vida. no processo que os seres humanos devem todos passar aqui no planeta chamado terra, mas que deveria ser chamado de 'planeta água', mas que um dia poderia ser mais conveniente ser chamado de 'planeta fumaça'. ainda mais se as poeiras do passado subirem após o sopro. deixa subir.

14.6.08

avante!

minha vida sempre foi pra frente. sempre. a meta foi jogar o jogo de todos: 'fazer a fita para a sociedade [isto é, fazer uma faculdade, conseguir um trampo decente, constituir família, ajudar o próximo...]'. acho que de certa forma consegui, me sinto livre para buscar. seja o método qual for.

no dia cinco de maio agora completei dez anos de jornalismo. na data nem me lembrei. hahaha. trabalhei bastante nesse tempo. comecei meio cedo, ainda na faculdade, tive sorte. e competência pra segurar o rojão sem nem mesmo saber escrever direito. cru, mas cheio de vontade. ideais.

o tempo passou, acontecimentos marcaram minha vida fortemente, e a mente foi levada para caminhos que nunca tinha imaginado alcançar. várias porradinhas e uma pancada máxima foram cruciais para o amadurecimento. ainda sim me sinto um privilegiado.

temos de colher o máximo, sempre. a vida [deus-tempo] empurra.

12.6.08

tinha essa aqui

imagem[delima]dubem

10.6.08

anônimo revoltado[como muitos]

o texto foi assinado por um certo 'anônimo revoltado'. talvez anônimo porque pode representar a opinião da maioria dos brasileiros anônimos que acompanham as transmissões de automobilismo no brasil. beira o ridículo tudo isso. e pouca gente tem coragem de falar sobre.

eis o texto na íntegra e sem edição:
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Bem amigos da Rede Globo!

Neste domingo vivi uma experiência ímpar: assisti as 500 milhas de Indianápolis com a “super-cobertura da Band”! Apesar de ser um fã de automobilismo (sim, às vezes pego pesado: até fórmula truck eu dou umas olhadas) eu ia desistir. A transmissão da dupla Luciano do Valle-Willy Hermann é tão ruim... que acaba ficando boa! A diversão é garantida, involuntariamente, é claro.

O Bolacha simplesmente não consegue acertar o nome de ninguém. “Essa Mika ta micada!” O trocadilho seria aceitável se o nome da venezuelana fosse Mika, mas é Milka. Com o Andretti, então, foi uma festa. “Lá vem o Mário Andretti!”. O repórter Celso Miranda, na base da velha amizade, entra para avisar: “O Mário está aqui pertinho de mim Luciano, torcendo muito pelo neto, o Marco”. Passam algumas voltas e, na terceira vez que o Bolacha chama o garoto de Michael, o comentarista, discreto, intervém: “O Marco é rápido como o pai, o Michael, não é Luciano?” Ele não se aperta: “Mário, Michael, Mário... mas também a família precisava colocar todo mundo com nome começando com a letra M?”. No quesito, hereditariedade, ele também vai chamando o Thomas Scheckter pelo nome do pai, Jody Scheckter. Quando, finalmente, é corrigido, apela: “É... o pai dele era tão bom piloto que esteve perto de ser excluído da Fórmula Um. Só isso! O homem era um perigo constante!”. O Celso Miranda não se contém: “É... mas acabou campeão do mundo, não é Luciano?” “Bandeirantes, o canal do esporte!”. A questão andava tão complicada, que o Willy nos brindou com a seguinte pérola: ”Esse negócio de DNA às vezes até funciona!”. Uau!

Sim, o comentarista também mostrou a que veio. Faltando 30, das 200 voltas, ao ver que os três líderes tinham mais de 2 segundos de vantagem dos demais (um monte, em Indianápolis) ele arriscou: “Para mim a corrida fica entre um desses três”. Precisa de muita coragem e anos de Indianápolis para uma afirmação dessas... Mas ele foi além: “Se o Scott Dixon se mantiver na frente vai acabar levando a taça”. Sim, amigos, ele acertou: ninguém passou o neozelandês e, como foi o primeiro a chegar, surpreendeu a todos e... efetivamente venceu!!!

Mas voltemos ao Bolacha, que é o cara. Como uma metralhadora, ele vai disparando bobagens ao longo da transmissão:

“O prêmio para o vencedor é incalculável: 2 milhões de dólares!”

“O Émerson Fittipaldi está guiando o pacecar. Essa é a garantia que teremos sempre um brasileiro na frente!” (essa foi duplamente cruel, em primeiro lugar porque, surpreendentemente para o Luciano, o pacecar saía da frente para a corrida andar e, em segundo lugar, porque na metade da corrida trocaram o pacecar e o piloto)

“O Bernoldi não é garoto, já tem 36 anos” (essa ele deve ter lido na ficha e entendeu mal: o carro dele era o 36)

“Estamos honrados porque a organização da prova escolheu a Band para distribuir aqui para os camarotes uma transmissão em português” (escolha difícil, diante da exclusividade da emissora do Morumbi)

“O Tony Canaã é baiano, mas é rápido” (só faltou falar se ele toca berimbau...)

“Se os mecânicos estivessem ali, seriam atropelados!” (se uma vaca, o Ronald McDonald ou Bush estivessem ali, também seriam...)

“Esse muro aqui é especial. Você em casa tem a impressão que ele é sólido, mas a coisa é bem diferente” (Gasoso? Líquido?)

“Domingo que vem tem Fórmula Truck em Fortaleza. E a prova tem emoção garantida porque é a menor pista do campeonato. Em automobilismo você sabe: quanto menor o circuito, maior a emoção.” (A tese, excêntrica, logo é derrubada por ele mesmo) “Indianápolis é especial também por causa da pista, o maior oval do mundo. E aqui a emoção é do tamanho da pista.”

“Esse methanol quando vaza é um perigo, porque ninguém vê a chama!” (Entram as imagens do carro pegando fogo, com close das labaredas) “Na verdade eles estão correndo com etanol, Luciano” “O nosso etanol, que beleza! É o Brasil dando um bonito exemplo para o mundo!” “Na verdade eles usam o etanol deles mesmos, extraído de milho, coisa de americano, né Luciano” “Mas o primeiro passo já foi dado, Celso. Agora pra eles usarem o nosso é só uma questão de tempo!”

Melhor parar por aqui. Mas vale dizer que eu vi oito acidentes e, mesmo sem acompanhar a Indy, identifiquei dois: os brasileiros Tony Canaã e Jaime Câmara. Fui muito melhor que o Bolacha, que errou nas cinco vezes em que arriscou e perguntou quem era nas outras três. Pra terminar, em meio ao festival de abraços que ele manda (ao querido amigo Elia Junior, ao fulano da agência de turismo que trouxe os brasileiros, ao governo do Ceará que mandou uma comitiva - !?!) e a um entranho entusiasmo especial com o Mario Moraes (neto do Antonio Ermírio, que chegou num “espetacular” 18º lugar – “você aí em casa talvez não tenha dimensão do que essa colocação significa”) e com o Vitor Meira (não sei, mas algo há), ele fala a frase que resume tudo: “Ah... estamos aqui com Fittipaldi, Andretti, Scheckter... faz lembrar os bons tempos!”

Bons tempos que, como a confissão involuntária diz, já foram, há muito...

[texto escrito por 'anônimo revoltado' como comentário para um texto no blig do gomes]

9.6.08

brasil[sil, sil, sil]

"imagina o pelé [edson arantes do nascimento] com a cabeça do doutor sócrates..." [rafa santos, jornalista e escritor, em comentário sobre a ineficiência social da figura brasileira, mais interessada em publicidade e o glamour que a posição lhe rendeu]

imagem[rex boy]

2.6.08

resmungos[de janela]

corra que o vilauba herrera voltou a mandar seus resmungos. o cara é um jornalista articulado, engajado na luta de classes e escreve textos ótimos. isso quando não deixa pra depois. "posso escrever um negócio no seu blog?" a resposta sempre foi positiva. mas, por enquanto, textos foram dois [excelentes] apenas aqui no veneno dubem. uma pena.

e parece que o cara despertou para a luz de novas idéias. ele não escreve apenas um tipo de texto. ele gosta de variar, de fazer poesia, de falar da cidade, de xingar os calhordas, expurgar os malditos medos e os bons momentos. da vida, sobretudo da cidade grande, babilônia cruel. gosta de falar de música, de criticar algumas coisinhas. e tantas outras que merecem um resmungo.

enfim, um verdadeiro resmungador ele é.
que também torce sempre pelos camarões.

imagem[de lima/dubem]